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A nostalgia
Coleção: Interdisciplinares
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SOBRE O LIVRO
Barbara Cassin faz uma análise ao mesmo tempo acadêmica e pessoal das origens do sentimento de nostalgia e das relações entre pátria, exílio e língua materna. A pergunta que orienta a escrita deste ensaio é: quando, afinal, nos sentimos em casa?
De início, a filósofa procura descrever a sensação estranha que vivencia sempre que chega à Córsega. Mesmo não tendo parentes nem raízes nessa ilha do Mediterrâneo, “nostalgia” é a palavra que lhe ocorre para descrever a hospitalidade, a experiência do cosmos, “ordem e beleza”, provocadas por seu contorno e seu horizonte.
Para Cassin, a nostalgia tem sempre duas faces: enraizamento e errância. Na primeira parte do livro, examina cenas primitivas do poema de Homero que narra o “retorno impossível” de Ulisses a Ítaca; entre elas, a cena que realiza a explosão literal da metáfora do enraizamento e que está na base da nostalgia: o leito nupcial de Ulisses e Penélope encontra-se, com efeito, cavado no tronco de uma árvore, permanecendo ligado às suas raízes.
Em seguida, a autora discorre sobre a errância de Eneias, na obra de Virgílio, que culmina na fundação de Roma e na exigência de um “falar a língua do outro”; aqui, a língua se torna critério de identidade mais relevante do que o solo ou o território.
Por fim, Cassin reflete sobre o exílio de Hannah Arendt, a filósofa alemã que, mesmo como cidadã norte-americana, sempre cultivou o amor pela língua materna, sua “verdadeira pátria”, seu espaço de permanente invenção onde se localizavam “raízes aéreas”.
Entre os objetivos deste pequeno livro, como propõe a autora, está o de “fazer da nostalgia uma aventura totalmente diferente que nos conduza ao limiar de um pensamento mais amplo, mais acolhedor, de uma visão do mundo livre de todos os pertencimentos”.
ANO DE LANÇAMENTO 2024
ISBN 978658314001-2
ACABAMENTO Brochura
FOTO DE CAPA Paulo Fabre
CAPA Caterina Bloise
FORMATO 13,5 cm × 21 cm
PESO 0,230 kg
PÁGINAS 144
TÍTULO ORIGINAL La Nostalgie – Quand donc est-on chez soi
Autora
Barbara Cassin é filósofa, filóloga e diretora de pesquisa no CNRS (França) e no Collège International de Philosophie. Em 2018, foi eleita para a Académie Française, entidade da qual havia recebido o Grand Prix de Philosophie pelo conjunto da obra. É autora de Elogio da tradução, Se Parmênides, O efeito sofístico, entre outros livros publicados no Brasil, além de ter sido coordenadora do projeto coletivo Dicionário dos intraduzíveis.
O que falaram do livro
A autora explica, com beleza, que esse sentimento que nos domina e altera nossa relação com o mundo é uma ficção escolhida, adorável, humana, um fato de cultura”.
Julián Fuks
Colunista e autor de A resistência
Um registro profundo sobre o sentimento de estar em casa e sobre a ausência desse sentimento, escrito por uma das pensadoras francesas mais importantes e originais de nosso tempo”.
Simon Critchley
Professor da The New School for Social Research
Cassin busca nos conduzir, a partir do que há de comum na experiência de Ulisses na “Odisseia”, de Eneias na “Eneida” e de Hannah Arendt no exílio, a “um pensamento mais amplo, mais acolhedor, […] uma visão do mundo livre de todos os pertencimentos”.
Bernardo Carvalho
Romancista, autor de Nove noites
Uma obra brilhante na qual Cassin nos convida a fazer bom uso desse sentimento ambíguo, agradável e, por vezes, perigoso”.
L’EXPRESS
Trechos do livro
Eu quis refletir sobre/sonhar com a nostalgia evidentemente porque amo Homero, Ulisses, a língua grega, o Mediterrâneo. Mas também, e isso é mais estranho, porque sou apegada à Córsega, ao horizonte de uma casa, de um vilarejo e de um cabo, em uma outra ilha, e que não é a minha, ao menos no sentido de que não nasci nela. “Nostalgia”, tal é, no entanto, a palavra que me vem naturalmente quando penso nela. Mas tal como o próprio “Homero”, a “nostalgia” não é exatamente aquilo que se crê. Assim como Homero não é o poeta origem, um homem e um só que teria composto a Ilíada e a Odisseia tais como elas são nelas mesmas, a nostalgia não é simplesmente a saudade de casa e o retorno para casa. Esse sentimento doce que nos invade é, como a origem, uma ficção escolhida que não cessa de dar os indícios para que a tomemos pelo que ela é: uma ficção, adorável, humana, um fato de cultura. [p.11-12]
“Nostalgia”, a palavra soa perfeitamente grega: a partir de nostos, o “retorno”, e algos, a “dor”, o “sofrimento”. A nostalgia é a “dor do retorno”: ao mesmo tempo o sofrimento que nos domina quando estamos longe e as penas que sofremos para voltar. A Odisseia, que funda, com a Ilíada, a língua e a cultura gregas, é a epopeia que um poeta cego – que provavelmente nunca existiu, “Homero” – compôs para cantar as peripécias do retorno de Ulisses, o herói das mil artimanhas. É, por excelência, o poema da nostalgia. No entanto, “nostalgia” não é uma palavra grega, não a encontramos na Odisseia. Não é uma palavra grega, mas uma palavra suíça, suíço-alemã. É, na verdade, o nome de uma doença repertoriada como tal somente no século 17. [...] É, portanto, para designar uma doença dos suíços de língua alemã que a classe médica terá fabricado a palavra “nostalgia”, assim como se diz “lombalgia” ou “nevralgia”. Se insisto nisso, é porque a origem da palavra me parece muito representativa do que é uma origem: essa palavra, que conota toda a Odisseia, não tem nada de original, de originária, enfim, de “grego”. Ela é fabricada, historicamente mestiçada. [pp. 16-17]
Índice do livro
Da hospitalidade corsa
Ulisses e o dia do retorno
Eneias: da nostalgia ao exílio
Arendt: ter sua língua como pátria
Referências bibliográficas
Notas
Posfácio à edição brasileira
VÍDEOS E PODCASTS