Por que cientistas dedicados a desvendar a verdade a respeito do mundo natural iriam distorcer deliberadamente a obra de seus próprios colegas? Por que espalhariam acusações infundadas? Por que se recusariam a rever seus argumentos quando fica comprovado que estão incorretos? E por que a imprensa continuou a citá-los, mesmo depois de ter ficado evidente que suas alegações eram falsas? Essa é a história que estamos prestes a contar. É a história sobre um grupo de cientistas que combateu as evidências científicas e espalhou confusão a respeito de muitos dos temas mais importantes do nosso tempo. É a história sobre um padrão que continua até hoje. Uma história da oposição aos fatos e da promoção da dúvida.

Anos depois, Santer estava lendo o jornal pela manhã e se deparou com um artigo que descrevia como alguns cientistas tinham participado de um programa, organizado pela indústria do tabaco, para desacreditar as evidências científicas que associavam o tabaco ao câncer. O artigo explicava que a ideia era “manter a polêmica viva”. Enquanto houvesse dúvida a respeito do nexo causal, a indústria do tabaco estaria a salvo de ações judiciais e regulações. Santer achou que a história parecia estranhamente familiar.Todos esperamos pagar pelas coisas que compramos, pagar um preço justo por bens e serviços dos quais esperamos colher benefícios, mas os custos externos estão desvinculados dos benefícios, são geralmente impostos às pessoas que não escolheram o bem ou serviço nem se beneficiaram do seu uso. Eles são impostos às pessoas que não se beneficiaram da atividade econômica que os produziu. O DDT impôs enormes custos externos através da destruição dos ecossistemas; a chuva ácida, o tabagismo passivo, o buraco no ozônio e o aquecimento global fizeram o mesmo. Este é o fio condutor que unifica esses diferentes temas: todos foram falhas do mercado. São exemplos de graves danos causados que o livre mercado pareceu incapaz de justificar, muito menos evitar.